A população GLBT e os jesuítas
Na Assembléia da Província, foi noticiado que os padres Geraldo Labarrère Nascimento e eu estivemos na Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Esta conferência foi convocada pelo Governo Federal e se realizou em Brasília no início de junho. Qual foi o propósito deste evento? Foi tratar de direitos humanos e de políticas públicas relacionados a essa população.
O P. Geraldo relatou o drama brutal de uma adolescente gay que, a mando do próprio pai, foi estuprada por colegas de escola a fim de ser supostamente curada. O estupro resultou em gravidez e no nascimento de uma criança. A este drama soma-se o suicídio de muitos adolescentes que se descobrem homossexuais. Eles chegam a esta atitude extrema por pressentirem a rejeição hostil da família e da sociedade. Esta hostilidade é a homofobia, agressão física ou verbal contra os gays, que os leva à profunda tristeza e à depressão. Não são raros os casos de assassinato, sobretudo de travestis. Além disso, muitos pais de homossexuais vivem enormes sofrimentos por não aceitarem seus filhos como são.
Por muitos séculos, a homossexualidade foi considerada o pecado de Sodoma (Gênesis, 19) que resultou no castigo divino destruidor. Nos séculos 19 e 20, a medicina tratou esta orientação sexual como doença e transtorno. Nas últimas décadas, a Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade da lista de doenças. Documentos da Igreja Católica falam de pessoas com tendências homossexuais profundamente enraizadas, ou mesmo de nascença. Estas pessoas devem ser tratadas com respeito e delicadeza, evitando-se para com elas todas as formas de discriminação injusta. No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia cassa o registro de psicólogos que anunciarem terapias de reversão da orientação sexual.
Diante disso tudo, é necessário aceitar que muitas pessoas são gays e o serão por toda a vida. Quanto ao pecado de Sodoma, uma leitura imparcial da Sagrada Escritura constata: a tentativa de estupro feita aos hóspedes do patriarca Ló nada tem a ver com o amor entre pessoas do mesmo sexo.
Na sociedade, em nossas obras e em contatos pastorais encontramos pessoas homossexuais, bem como entre nossos parentes próximos ou distantes. A Companhia de Jesus é convocada ao trabalho apostólico de fronteira, nas trincheiras e encruzilhadas ideológicas. O saudoso D. Luciano Mendes de Almeida participou da Assembléia da Província em 2005. Na palestra que então proferiu, fez referência à parada gay realizada em São Paulo semanas antes, com quase dois milhões de pessoas. E lançou o desafio: que resposta nós damos a estas pessoas?
O cardeal Carlo Martini traz algumas luzes. Fazendo um balanço de sua vida, ele declarou: “Entre os meus conhecidos há casais homossexuais, homens muito estimados e sociáveis. Jamais me foi perguntado e nem me teria vindo em mente condená-los”. Demasiadas vezes, acrescenta ele, a Igreja tem se mostrado insensível, principalmente com os jovens nesta condição.
Cristo prometeu alívio aos que estão cansados e sobrecarregados. Também nós podemos colaborar para que eles tomem o Seu jugo leve e o Seu fardo suave.
Pe. Luís Corrêa Lima, S.J.
Historiador e professor da PUC-RJ