O que é um prostituto cultual?
Os povos cananeus, vizinhos dos hebreus, não possuíam a lei de Moisés; eles idolatravam vários ídolos e deuses. Os cananeus em seus templos ou em campos, celebravam cultos da fertilidade; nestes cultos ocorria a prostituição-cultual, em que as mulheres e os homens representavam deuses e se trajavam como tais, se prostituindo em honra a seus deuses. Prostituição masculina não existia no Oriente Médio a não ser em templos pagãos ou em seus cultos da fertilidade, tal prostituição está totalmente ligada a idolatria. Tanto que a palavra hebraica para “prostituto” que aparece na Bíblia é “qadesh”, que literalmente significa “santo” ou “separado”, “prostituta” em hebraico é “qadeshôth”, significando “separadas”ou “santificadas”; nesse sentido eles eram separados, não para o serviço de Deus, mas sim para o serviço aos deuses pagãos.
Os tradutores tem erroneamente traduzido qadesh como “sodomita”, o que é totalmente absurdo, já que nestas passagens em que aparece o termo qadesh não há nenhuma alusão a Sodoma ou a seus moradores. É terrível ver como a Bíblia tem sido traduzida de qualquer maneira por pessoas que querem apenas induzir a uma opinião pessoal.
Estes qadeshs, sacerdotes “santos” do seu povo, eram chamados de prostitutos pelos judeus. Na verdade a prática de idolatria sempre foi chamada de prostituição nas escrituras; em Êxodo 34.14-16 diz: “Nunca adore nenhum outro deus, porque o SENHOR, cujo nome é Zeloso, é de fato Deus Zeloso. Acautele-se para não fazer acordo com aqueles que já vivem na terra; pois quando eles se prostituírem, seguindo os seus deuses e lhes oferecerem sacrifícios, convidarão você e poderão levá-lo a comer dos seus sacrifícios e a escolher para os seus filhos mulheres dentre as filhas deles. Quando elas se prostituírem, seguindo os seus deuses, poderá levar os seus filhos a se prostituírem também.”
Esse costume nas escrituras de chamar a idolatria de prostituição vem do fato de que o relacionamento de Deus com a nação de Israel é metaforicamente ilustrado como um casamento; também porque o nome “Baal”, uma das principais divindades cananéias, significa “Senhor”, “dono” e “marido”, veja Oséias 2.2,3,16,17.
Os qadesh eram em maioria eunucos, que se entregavam totalmente ao serviço do templo pagão, sofrendo um ritual de emascuação (castração) para se entregarem inteiramente aos seus deuses da fertilidade. É bom lembrar também que havia eunucos que não eram prostitutos, estes eram homens castrados que viviam em palácios cuidando dos haréns ou se dedicando ao estudo e à sabedoria.
A lei mosaica proibia que entre os israelitas houvesse qadesh. Há uma passagem que fala também de eunucos em Deuteronômio 23.1, o comentário da Bíblia Vida Nova sobre esta passagem diz: “Emasculação é a mutilação do membro viril. Era uma prática pagã. Nas antigas religiões pagãs, os eunucos eram sacerdotes dos templos.”
Logo, se um homem israelita fosse castrado, ele não poderia, por estar debaixo da lei, praticar homossexualidade, idolatria ou prostituição. Também não poderiam participar de algumas atividades do templo. Em outro comentário sobre Deuteronômio 23. 1,2 a Bíblia Vida Nova diz: “Estas incapacidades físicas não eram obstáculo à participação na vida da congregação. Mesmo no antigo testamento, serviam de obstáculos só quanto a privilégios externos; jamais quanto às realidades espirituais da salvação.”
Em Deuteronômio 23. 17,18 está a proibição aos israelitas de se tornarem prostitutos e prostitutas cultuais: “Nenhum israelita, homem ou mulher, poderá tornar-se prostituto cultual. Não tragam ao santuário do Senhor, o seu Deus, os ganhos de uma prostituta ou de um prostituto, a fim de pagar algum voto, pois o SENHOR, o seu Deus, por ambos tem repugnância.”
Algumas Bíblias erradamente traduziram também nestes versículos a palavra qadesh por sodomita. Em Deuteronômio 23. 18 a palavra qadesh nem mesmo aparece, mas sim a palavra “cão”, que alguns estudiosos acreditam que é uma forma depreciativa de se referir a homens que se prostituíam.
Embora a prostituição cultual não fosse permitida na lei mosaica, ela era trazida a Israel por judeus infiéis à lei e que adoravam outros deuses (veja Juízes 2.17). No período monárquico de Israel, Asa, rei de Judá, fez um reavivamento religioso pois Israel estava se desviando da lei; ele destruiu os ídolos pagãos e expulsou os prostitutos cultuais de sua terra, embora não tenha retirado os altares dos lugares altos (ver I Reis 15.11-14). Josafá, o filho do rei Asa, quando assumiu o trono também se preocupou em expulsar do país os prostitutos cultuais que restaram (I Reis 22.46). Ainda assim, alguns anos depois o povo se afastou e caiu no paganismo novamente; apenas na época em que Josias reinou em Judá é que veio a ser feita uma renovação da aliança e a situação israelita de adoração foi purificada e estabilizada (ver I Reis 23.7). Todos estes versículos mostram o zelo de alguns reis pela religião e em acabar com a prostituição, refletindo a vontade de Deus.